Poderia começar, por exemplo, desde que eu vi um vídeo da Linhagem Nerd tratando sobre isso. Mas bater em cachorro morto tá dó. Afinal, não há argumentos, só uma opinião... furada, mas há. Vamos para um outro setor que eu pouco abordei na vida do blog: o "americanismo".
Uma coisa que chamo de "americanismo", é o super patriotismo criado sobre os Estados Unidos. Apesar de ter sido um dos primeiros países a conseguir independência (um das primeiras colônias americanas a se livrar de sua metrópole), não foi por conta disso que eles se tornaram tão orgulhosos de si. Na verdade, se deve ao Destino Manifesto, onde o governo queria que fossem ocupados os territórios a leste do país. Para isso, se falava que isso seria algo divino, que os norte-americanos estariam predestinados a conquistar esse território. Entretanto, no processo, eles matavam indígenas ou mexicanos (daí, parte do território nos EUA, ter nomes como San Francisco, Las Vegas, Los Angeles, etc.) que já haviam se fixado no local. E isso, sem contar com o racismo não sendo criminalizado até os anos 60, demonstra que as pessoas não se conscientizaram sobre isso, até mais recentemente.

Dito isso, surgiu dentro do país um ufanismo, um senso de patriotismo fanático, que muitas vezes quer se sentir acima de todos. Que beira um capitalismo frenético, que para se manter no poder, precisa: endemonizar o socialismo e comunismo, além de criar matança para manter seus lucros. Exemplos desse segundo são, o Laos, o Vietnã, a separação das Coréias, o Iraque, o Irã, o atual conflito entre Israel e Palestina, entre outros tantos. E sobre o primeiro ponto, há sempre o problema de querer associar as mazelas do mundo a um estilo de política ou economia. Seja de um espectro político ou de outro. "O problema é o capitalismo", "o problema é o socialismo", "vou tentar debater contra a extrema-direita", "essa bandeira aqui, com um círculo vermelho, é do comunismo", saca? O que devemos compreender é que o importante não é o sistema, mas quem manipula ele. Podemos falar que Putin é tão cruel quanto Netanahyu ou Donald Trump? Podemos, já que todos, de uma forma ou de outra, manipularam o sistema a seu favor. Causando mortes, desespero e conflitos.
E é aí que Kripke foi brilhante. Desde o começo sua crítica era ao governo Trump. Mas obviamente, ele não poderia fazer isso de forma direta. A arte serve para isso, ao ponto de que ele não iria apenas atacar a figura de Trump, mas a oposição. Como? Na figura de Billy Bruto usando o composto V, e se "tornando o monstro que quer derrotar, talvez até pior".
Comecemos por uma coisa tratada como boba. O criador de ‘The Boys’, Eric Kripke, comentou que nunca teve interesse que Black Noir fosse um clone de Homelander.
“Nos quadrinhos, ele é um clone de Homelander o tempo todo e é ele quem faz todas essas coisas horríveis… é uma reviravolta incrível. Mas é como, 'Bem, espere, o vilão que estou seguindo não é realmente o vilão.' Tenho certeza de que os fãs estão bravos por eu não estar seguindo esse caminho, mas não achei isso tão satisfatório. Eu fico tipo, ‘Se vou seguir Homelander, quero que esse cara seja o vilão.’ Então nunca me interessei muito pela ideia do clone." Então, mesmo que as HQs e a série sejam uma crítica, Kripke sempre quis fazer algo mais conciso. Mais estruturado, pois convenhamos, um clone do mal é a história mais simples e "comics" que poderia se imaginar. Então, deixamos algo que aparece nas HQs, para algo mais prático. Interesses políticos e industriais, que os espectadores de direita ignoraram até então!

Vejam por exemplo como foi a criação da personagem Espoleta. Falando para a Variety, Eric Kripke revelou que a apoiadora de Trump, Marjorie Taylor Greene foi uma das principais referências para a construção da personagem.
"Espoleta veio de: 'ei, Marjorie Taylor Greene não é assustadora?'," revelou Kripke. "Você tem esses descendentes de Trump que estão tentando superar uns aos outros pelo quão ultrajantes, sexualizados, armados e servilmente obedientes eles podem ser. O Capitão Pátria começaria a criar esses esporos que se transformariam nesses outros personagens, e ela é uma versão disso."
Kripke disse também em outra entrevista (via HollywoodReporter) que a ativista pelos direitos das armas, Lauren Boebert também foi uma forte inspiração para a Espoleta.
Outro nome citado pelo criador da série foi Kristi Noem, Governadora da Dakota do Sul que admitiu com orgulho em seu livro ter matado uma cachorrinha de 14 meses a tiros, por achá-la "inútil como cão de caça". Noem, no entanto, não foi uma inspiração que surgiu durante o processo de criação da Espoleta, mas poderia ter sido, segundo Kripke.
"Quando estávamos escrevendo para [a Espoleta], Kristi Noem não estava em nossas mentes, mas então ela apareceu atirando em cachorrinhos e pensamos: 'lá está a Espoleta! Ela está literalmente atirando em cachorrinhos!'", completou Kripke.
E tem mais, dessa vez, como uma crítica a mídia norte-americana: "O que a série está tentando provar é que todos estamos sendo manipulados por meio de algoritmos e mídias sociais. E desinformação e bilionários e políticos, porque isso os beneficia financeira e politicamente, ter todos nós com raiva uns dos outros.”
Eric Kripke também comentou um pouco sobre as analogias políticas apresentadas na produção televisiva do Prime Video e afirmou que “não tem palavras” para quem enxerga o Capitão Pátria como um herói.
“Eu não escrevo com eles em mente. Quero dizer, olha, isso realmente não me incomoda particularmente. Eu apenas levanto as mãos e penso, 'Bem, eu não sei o que mais fazer então.' A série é muitas coisas. Sutil não é uma delas”, afirmou ele ao SlashFilm.
“Se você, por exemplo, acha que o Capitão Pátria é um herói, simplesmente não sei o que dizer. Não sei o que dizer. Mas veja, por outro lado, se as pessoas quiserem assistir a essa série apenas pelo entretenimento escapista, como qualquer outra coisa de super-herói... então acho que obrigado por assistir, ponto de interrogação?”
“Mas, obviamente, a série traz muito o que pensar, e eu certamente apreciaria mais se as pessoas entendessem as diferentes camadas que trabalhamos tanto para colocar na obra”, concluiu Kripke.
Até Antony Starr, ator que faz o Homelander, criticou fãs que idolatram o Capitão Pátria. “Embora ele claramente não seja um cara legal, muitas pessoas se interessaram por ele. Há pessoas por aí que realmente o idolatram. Eu vi alguns no Twitter e pensei, ‘Espere, o quê? Você não entendeu nada!”. Tem mais uma postagem dele que é "Bem, Homelander é um psicopata e eu não sou, então parem de me tratar como se eu fosse Homelander."
Isso sem contar a ironia de The Boys: Aya Cash, uma judia, interpreta a Tempesta, enquanto Valorie Curry, que é lésbica, interpreta Espoleta, uma personagem altamente homofóbica. Ai você se pergunta o motivo dele não ter feito algo minimamente parecido, em sua outra série de sucesso, Supernatural. Simples, pois ele não podia. Antes ele fazia série para a CW, mas agora tem uma maior liberdade, pela Prime Video! Onde tem uma abertura maior.
Então, se você curte o Capitão Pátria, pois como ele pode ser complexo, beleza. Mas se tu acha que ele está certo, você não entendeu nada do que Kripke sempre mostrou.