"Pecadores" é um thriller no auge que entrega tudo que promete e vai sendo construído sem a menor pressa. Eu acho que os trailers tem estragado muito as experiências proporcionadas pelos filmes, então não assista nada, só vai!
Dois irmãos, "Fuligem" e "Fumaça", ambos magistralmente interpretados por B. Jordan, estão tentando recomeçar a vida no local onde cresceram, mas algo muito sinistro está no caminho deles.
No meio do terror, nasce a resistência. Através do blues. Essa música, que já foi chamada de "música do diabo", aqui vira arma de libertação. O clube musical dos protagonistas é um refúgio. Ali, o povo canta, dança, sonha e resiste. É um escudo contra o medo e a opressão. Não apenas dos povos negros, mas dos chineses também. Pecadores não é só um filme de terror, é um grito ancestral, embalado por música e marcado por luta. Uma obra que transforma dor em arte - e arte em revolução.
Em Pecadores, os verdadeiros monstros não usam só capas, mas capuzes. Os vampiros da história são membros da KKK (Klu Klux Klan). A fome por sangue simboliza a violência estrutural contra os corpos negros.
O diretor Ryan Coogler usa o horror para retratar algo real e pessoal. "As melhores histórias de terror falam do que nos assombra de verdade." Nesse filme, o monstro é o racismo travestido de tradição.
O filme evidencia a vivência negra com thriller envolvente e aterrorizante. Existe um ditado no movimento cinematográfico negro: "Filmes feitos por nós, para nós, sobre nós". Trata-se do quanto é importante e significativo que existam produções que retratem a experiência negra a partir de cineastas negros. Em última instância, Coogler cria um filme complexo e intenso - mas também profundamente honesto, à medida que não impõe o que as pessoas precisam pensar sobre. Pecadores deixa os espectadores livres para se horroriza ou se compadecer.
A escolha pelos monstros sugadores de sangue, evidencia os predadores que a comunidade negra pode enfrentar, seja em qualquer época. Por isso, Pecadores, um filme que se passa em meio as leis segregacionistas, continua tão contemporâneo.
Uma coisa que me fez gostar muito de Pecadores foi a maneira como o Ryan Coogler decidiu filmar em filme ao invés de usar digital, ele conseguiu capturar muito bem a essência dessa história. Filmar com filme demanda um trabalho mais cuidadoso, porque assim o diretor não pode confiar totalmente no CGI, é preciso se jogar dentro do próprio filme. Então você sente a poeira, o sol escaldante, o suor desses personagens, parece que o filme te joga pra dentro dessa história.
Em Pecadores de Ryan Coogler foi apresentado a Halo, uma inovadora tecnologia de câmera desenvolvida especificamente para as gravações do filme.
Esta nova plataforma de captura possui entre 10 e 12 câmeras estrategicamente posicionadas para envolver completamente o rosto de um ator. A principal aplicação dessa tecnologia foi a captação de dados faciais de Michael B. Jordan, que foram posteriormente utilizados para aplicar digitalmente seu rosto em seu dublê.
A Halo foi crucial para a produção, sendo empregada em aproximadamente 50% das cenas onde ambos os gêmeos aparecem, garantindo uma transição fluida e realista entre os personagens.
A trilha sonora de Pecadores foi criada por Ludwig Göransson e Serena Göransson, com 29 momentos musicais distintos ao longo do filme. Participações de Brittany Howard, Raphael Saadiq, Don Toliver, Rhiannon Giddens e Bobby Rush, que aparece em cena tocando gaita ao vivo. Miles Caton aprendeu slide guitar em um Dobro Cyclops de 1932.A maquiagem é assinada por Mike Fontaine, que criou próteses e efeitos práticos inspirados em Green Room e O Enigma de Outro Mundo. As peças foram moldadas por sua equipe em Nova York e aplicadas no set em Nova Orleans. Tudo sob a direção de Ryan Coogler.
Um detalhe sobre Pecadores, é que o personagem Sammy, em seu final, não tem um reflexo no espelho. Mas como, se ele não é um vampiro? Sendo que as almas desses sugadores de sangue estão presas em seus corpos. A verdade é que o guitarrista de blues, é inspirado no cantor verdadeiro, Robert Johnson, que teria feito um pacto em uma encruzilhada. E essa tradição foi endemoniada por missionários e colonizadores, o que faria Johnson ser tratado como alguém que fez um trato com o diabo.
A sombra que aparece para o jovem Sammy, pode ser Papa Legba, esse espírito, entidade, que surge como parte das tradições africanas e haitianas. E por isso, Sammy não teria reflexo, devido a parte desse acordo. Mas nada com conotação maligna.