sábado, 23 de novembro de 2024

Sobre Como Treinar Seu Dragão, Wagner Thomazoni, opiniões burras e preconceito nas redes sociais

Com a nova versão em live-action de Como Treinar o Seu Dragão, já vem gente em redes sociais falar besteira. E um deles é o Wagner Thomazoni. Que não apenas é o vocalista da banda Tragicômico, mas que já falou contra uma empresa por ter chamado um socialista para sua estande, e ele não foi. O cara só quer chamar atenção do modo errado!
Bem, vamos já tirar as desculpas esfarrapadas aqui: não existe racismo reverso! Não existe lacração como bolsonaristas falam e nem sequer agenda woke como republicanos e democratas falam. Só existe representatividade, em diferentes formas dentro de diferentes mídias, antes mesmo dessas pessoas existirem. Então, tirado isso da frente, vamos examinar esses textos dele. 
Ele fala sobre "as pessoas acharem absurdo um branco no papel no papel de um negro". Pois é sim absurdo. Não dá para comparar os sofrimentos de povos, etnias, religiões e minorias, um com o outro. Ele não sabe, por exemplo sobre Leopoldo II, rei belga matou dez milhões no Congo. Na virada do século 20, os africanos eram usados como escravos a serviço dos belgas. Castigos físicos e mutilações de pés e mãos eram usados para punir os trabalhadores que não alcançavam a meta de produção estipulada pelo rei. Então eu acho que não dá para comparar com os vikings. 
Mas então, por qual motivo poderíamos colocara uma atriz negra no papel de uma germânica? Nem vamos colocar aqui o texto da história fictícia. Vamos falar dos vikings mesmo, que pilhavam, roubavam e matavam, como bandoleiros, atacando vilas pouco protegidas e mosteiros. Em alguns pontos, especialmente por só responderem aos seus líderes, lembravam os cangaceiros nordestinos do Brasil. Onde víamos, em estudos, devido a esses ataques e aceitação desses povos bárbaros, fez eles terem traços miscigenados. A atriz, Nico Parker, tem uma cara muito próxima dessa mistura étnica. O que era comum demais no auge do povo citado.
A miscigenação existe por todo o mundo, e muito disso se deve ao escravismo (não de modo positivo, é claro). Dentro de um período histórico, famílias inteiras foram retiradas de seu continente e trazidas pelo mar, com a chance de não sobreviverem (tanto que os navios negreiros, também eram chamados de navios tumbeiros), para um local desconhecido. Então, ele acha que quem briga por isso, pela representatividade, está chorando muito no Twitter, sendo que ele está usando a rede social exatamente para isso.
Ele fala que identitarismo, segundo @EliVieiraJr, seria uma preferência estética. Mas está bem longe disso. Identitarismo, nasce de grupos sociais formados por pessoas que compartilham aspectos da sua identidade e, logo, possuem interesses, perspectivas e demandas em comum. E sabe o que é pior, nesse contexto que coloquei de identidade, encaixa melhor na defesa do Wagner do que a desse tal Eli, pois o que ele está defendendo seria uma "identidade viking", "identidade germânica". Pois ele mesmo fala sobre colocar atores brancos em papeis de personagens brancos apenas.
Sem contar que ele ignora a grande quantidade, até 2020, de atores escalados para papéis que deveriam ser de orientais, por exemplo. Ele que é um cantor de anime song, poderia saber da atriz Giovanna Antonelli que já fez papel de uma moça negra (novela Segundo Sol) e filha de um casal asíatico (novela Sol Nascente), em obras da Globo. Ou pra ficar na parte de animes, a atriz Scarlett Johansson que fez a japonesa Motoko Kusanagi, no filme live action de Ghost in the Shell.
Ele compara a figura da sereia feita por uma atriz negra, a um orixá ser feito por um ator branco. A figura de uma entidade, como Xangô, ainda é cultuada até os dias de hoje. Devido a resistência espiritual dos que eram escravizados. Em religiões como a umbanda e o candomblé, elas persistem como parte desse legado, misturando características de religiões africanas, não apenas uma. Diferente de cultos a deuses como Odin, Zeus ou Rá, que não tiveram esse problema. E mesmo que houvesse ou haja pessoas que cultuam esses deuses germânicos, gregos e egípcios, hoje em dia, eles nunca foram tratados pelas civilizações atuais como demônios.
Já no caso de uma lenda, ou mitologia, isso se torna mais livre.
O pior é que ele escreve "cultura que seja predominantemente branca". Nenhuma cultura é predominantemente branca! O croissant é islâmico, tanto que tem a forma de lua crescente, o ouro que pagou a Revolução Industrial Inglesa é do Brasil, os diamantes da coroa da Inglaterra tem origem na África. A gente não pode falar sobre uma cultura branca. Nem os judeus poderiam ser chamados apenas de brancos num deserto daqueles que viveram!
O pior é o palavrão que ele trata as pessoas quando quer dar ênfase ao seu preconceito. E pior, ele compara as tranças vikings as tranças africanas. Como se fossem muito parecidas. Tanto em estética quando em origem. Quem entende de cabelo, mais do que eu deve saber que isso não faz sentido.
Agora notem bem isso. Se no livro, que é a fonte da história para o filme, ele mesmo diz, que existiam pessoas negras, mesmo sendo uma obra com teor germânico, ele não tem que falar nada. 
Fãs podem reclamar, como ele mesmo diz. Mas opinião, sem fundamento, é apenas isso. Se ela tiver fundamento, se torna uma crítica, quase sempre construtiva. E ele não tem fundamento nenhum nisso.
E ele fala que a atriz ficou uma bosta na filmagem, sendo que nem viu ela atuar. O trailer se concentra no Soluço e no Banguela. 
Racismo é burro. Como de costume.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Rio 1710 – um jogo de interpretação

“Rio 1710 – um jogo de interpretação” é um livro-jogo de RPG de mesa, produzido pela Prefeitura do Rio, por meio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). O livro transporta os leitores e jogadores para o início do século XVIII na cidade do Rio de Janeiro, proporcionando uma imersão em um cenário rico em história e cultura.

Baseado em intensas pesquisas e em iconografia histórica, a obra recria aspectos da sociedade, paisagem e cultura carioca da época. Os leitores poderão explorar construções e locais históricos, se aventurar nos primórdios da colonização portuguesa na cidade, interagir com personagens da época e, com liberdade total de imaginação, criar novas aventuras em um Rio de Janeiro de mais de 300 anos atrás.

O Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) lançou, em 8 de Novembro de 2024, o livro “Rio 1710 – Um jogo de interpretação”, uma obra que convida leitores e gamers a explorarem o Rio de Janeiro Colonial em um RPG de mesa que transporta o jogador para o início do século XVIII na cidade, proporcionando uma imersão em um cenário rico em história e cultura. O lançamento foi aberto ao público no Espaço Urbana Carioca, (Praça XV, 34 – ao lado do Arco do Telles, no Centro), às 15h.

A ideia para o livro surgiu de uma campanha de RPG – que é o período que dura uma jornada do jogo – da qual o servidor do IRPH, Rafael Koury, participou durante a pandemia. A experiência, que durou um ano e meio e girou em torno dessa temática, foi tão imersiva que acabou inspirando a criação do livro, com narrativa mais detalhada e ampliação do uso na área de educação.

Para a presidente do IRPH, Laura Di Blasi, o livro inova na forma de aprender um pouco mais sobre a história do Rio.

https://irph.prefeitura.rio/livro-1710-um-jogo-de-interpretacao/

domingo, 10 de novembro de 2024

Robocop: empresas não ligam se está trabalhando, pois você é uma máquina


-Vivo ou morto, você vem comigo.

Como essa obra surgiu? Bem, vamos por partes.
Nos anos 80, o jovem Edward Neumeier, trabalhava na produção de Blade Runner. E ali, ele deve uma ideia, de um futuro - não tão distante MESMO - em que os androides fossem a força policial. Michael Miner, deve uma ideia parecida com a de Ed. E quando um soube do outro, sentaram e pouco a pouco, surgia o roteiro de Robocop. Esse texto foi vendido para a Orion Pictures, e a mesma ofereceu ele aos melhores diretores da época. Nenhum quis, até chegar a Paul Verhoeven, que também não aceitou. Ele jogou essa obra no lixo, mas a sua esposa encontrou aquilo, e o convenceu a mexer com aquela filmagem. 

-Somos apenas humanos.
Robocop: O Policial do Futuro (1987):
Em uma Detroit futurista, a polícia passa por diversas dificuldades, pois o crime mandava. Nesse período, a OCP consegue o poder sobre a polícia, como em privatizações atualmente. Coincidência?
Policiais, como o honesto Alex Murphy, e sua colega Lewis, morrem diariamente. Para reduzir a violência e diminuir as baixas de homens da lei, a ideia é substituir eles por máquinas. Plano de Dick Jones, que quer colocar seu protótipo ED-209 para isso. Mas notando algumas falhas no robô, Bob Morton, dá a ideia te continuar com o projeto de um policial, com partes robôticas. Quem seria um voluntário?
Acontece que Alex Murphy é morto em combate. E como agora o policial é propriedade da OCP, ou seja, até seu corpo é dessa corporação, é usado como uma arma viva. Com auxílio de Lewis, ele primeiro tenta fazer justiça, atrás de criminosos. E descobre que ele é um humano, que seu corpo foi usado sem consentimento das pessoas de sua família, além de que há um estratagema das empresas com o crime organizado.
Com o sucesso do filme, virou HQ, até mesmo pelas mãos de Frank Miller. O mesmo que anos antes fez o famoso Batman - Cavaleiro das Trevas. Fizeram até desenho animado. E iriam fazer um segundo filme, mas falaram que estava muito violento. Aliás, quase que o roteiro de Miller, foi para a frente, mas o reescreveram pois estava violento demais...
Robocop 2 (1990):
Detroit continua um caos, mas para pior. Existe um novo tipo de droga poderosa na cidade chamada Nuke. O líder desse tráfico é Cain, um bandido extremamente perigoso. 
Murphy vai atrás de Cain, mas é detido por conta de um garoto. Aí, já se nota o quanto seu lado humano interfere em seu serviço, agora, como um policial cibernético. 
Há uma trama sobre em que a OCP só PRIVATIZA a cidade, já que o governo local não estava conseguindo pagar pelos seus serviços! Eles pretendem transformar a cidade em Delta City, uma versão privatizada de Detroit. Além disso, estão tentando criar um novo Robocop, um Robocop 2. Mas todos os cérebros usados até então, enlouquecem, quando notam ser uma forma de vida metálica.
A Dra. Juliette Faxx, sugere usar a mente de um criminoso que está no corredor da morte, para esse novo construto. Em primeiro momento eles ignoram essa ideia, mas com Murphy sendo destruído pelo grupo de Cain, ela tem uma oportunidade. Primeiro ela quer transformar a primeira versão do Robocop em um inútil, colocando novas diretrizes na mente do policial. O fazendo um bobo para o grande público. 
Ao notar que seu parceiro está estranho, Lewis o critica, o que lhe faz cair na real. Ele toma um choque de eletricidade por conta própria e se solta das diretrizes. Ele prende Cain finalmente, mas Faxx, o usaria como o cérebro para o Robocop 2.
Robocop 3 (1993):
A OCP, para conseguir fazer sua tão famosa Delta City, fez o seguinte: ela foi incorporada pela Kanemitsu. Para que isso ocorresse, seria necessário retirar a população pobre da cidade! E a desculpa é a violência atual do lugar. 
Para isso, a OCP cria a Reabilitação, uma força policial que deve evacuar as casas dos moradores. Os moradores se revoltam e se levantam contra a OCP, formando um campo de batalha.
Murphy tenta ajudar os moradores, mas sua parceira Anne Lewis é morta pelo Comandante dos policiais da Reabilitação. Robocop se junta à luta contra a OCP, a Reabilitação e os androides japoneses (Otomo) de alta tecnologia, enviados para destruí-lo. 

-Você está estacionado ilegalmente em propriedade privada! Você tem vinte segundos para mover seu veículo!
Eu estava assistindo, e comecei a notar como Robocop (tanto a versão antiga, das HQs, como a dirigida por José Padilha), são uma crítica as grandes corporações. E se pegarmos mais atualmente, as privatizações.
Há de se colocar, nem tudo dentro de um processo de privatização é ruim. Vide a Telefônica, que apesar de tudo, dá um serviço "decente", em todo o país. Mas a longa lista de privatizações que o poder federal, estadual e municipal querem fazer, demonstra a falta de competência do governo, jogando para as empresas essa responsabilidade. Podemos com isso, notar uma desculpa perfeita, quando dá tudo errado, como o caso da ENEL, na cidade de São Paulo, em outubro de 2024.
Há sim, responsabilidade, por parte das companhias, mas admitir falhas seria uma das prioridades do governo em qualquer circunstância. Mas parece que é "muito pejorativo", admitir uma falha.
Mas em Robocop, tanto o governo, quanto as empresas, são dominadas pela empresa OCP. Que pretende transformar Detroit em um mega projeto, dito como Delta City. Mas, mesmo essa mega-empresa, claramente ligada ao governo, para transformar essa cidade, tem acordos com os criminosos locais.
Sem contar a ideia de "baratear" os policiais. Como? Simples: quando um policial entra na corporação, ele assina um contrato e ele PERTENCE A EMPRESA. O que significa que se ele faleceu, seu corpo passa a pertencer a OCP, para ser usado como os empresários quiserem. Isso não está tão longe da realidade, como empresas que mantém video-aulas de professores falecidos ou o uso da voz de atores em filmes por inteligência artificial.
Dito tudo isso, Robocop se torna uma mão de obra mais barata e mais eficaz. Baratear os custos, sem quebrar os empresários.
Para finalizar, Robocop não pode matar ou se rebelar contra X ou Y empresário, pois há um protocolo, se me lembro bem, a Diretriz 4, que, como no próprio filme fala "impede que o produto se rebele com o criador". Isso é contornado, quando o empresário do primeiro filme é despedido da OCP, significando a perda de poder sobre o empregado/produto.
Fazer o que, né? Somos apenas humanos!