domingo, 11 de março de 2018

A Mulher-Maravilha e o feminismo

Se você precisar parar um asteroide, você chama o Superman. Se você precisar de resolver um mistério, você chama o Batman. Mas se você precisa acabar com uma guerra, aí você chama a Mulher-Maravilha!
A Mulher-Maravilha é a criação de um homem. Como tal, muitas pessoas poderiam imaginar que ele poderia ser uma pessoa extremamente machista, e colocar a personagem em situações mais de segundo plano. É extremamente o contrário o que a criação de William Moulton é. Ela, até hoje, é um símbolo do feminismo, feminilidade e da força que as mulheres. E é isso que veremos aqui. 

A vida está matando o tempo todo, então a deusa se mata em sacrifício dos seus próprios animais.
Frase gravada na lâmina de sua espada
Essa personagem tem mais de setenta e cinco anos de existência. A heroína foi criada em 1941 por William Moulton Marston, com o pseudônimo de Charles Moulton. Ele foi advogado, jornalista, consultor pedagógico, psicólogo com título de PhD em Harvard e um cientista feminista. Sua criação pode possuir um conceito muito parecido com a criação de outros personagens como o do Superman ou Batman, até certo ponto, quando tratamos sobre uma identidade secreta (quase sempre civil). Mas isso se difere em alguns pontos. 
O criador da personagem era filho único, sendo que ele e a mãe dele viviam com mais quatro mulheres (tias de William) e todas intelectuais. E ele viveu casado com Elizabeth Holloway Marston de 1915, até sua morte. Ela era uma mulher a frente de seu tempo, fazendo a faculdade em uma época em que isso não era comum e trabalhou na enciclopédia britânica. O casal gostava muito de psicologia e de mitologia grega (uma das grandes influências do surgimento da personagem). Contudo, ele não tinha só uma mulher.
Uma das outras mulheres de William era Olive Byrne, sobrinha de Margaret Sanger, ligada ao sufrágio e ao controle da natalidade. Detalhe: William, Olive e Elizabeth mantinham um relacionamento poligâmico. 
A Mulher-Maravilha foi a primeira personagem feminina heroína da DC Comics, uma guerreira amazona surgida de uma inspiração na Grécia Antiga: as amazonas. Livres e decididas, elas cooperaram entre si na Ilha Paraíso. Durante muito tempo, todas desenvolveram um grande potencial físico e mental.
Diana é uma princesa amazona que cresceu na Ilha Paraíso, na cidade de Themyscira. Essas terras foram escondidas pelo próprio Olimpo. Inicialmente, Afrodite teria criado as mulheres de lá. Mas depois de alguns anos, o papel de devoção seria dividido com outras divindades como Atena e Hera. 
Como as mulheres não poderiam ter relação com homens, a deusa Afrodite deu vida uma estatueta de barro com forma de uma menina criada pela rainha Hipólita. Essa seria Diana. Outros deuses concederam várias habilidades a garota, como super-força, resistência, velocidade, resistência, sabedoria, entre outras habilidades. 
As amazonas viviam em paz, mas treinavam todos os dias para um dia que os homens invadissem aquele território. Steve Trevor, um piloto do exército americano chega na ilha, após seu avião ser abatido por um grupo nazista. As mulheres o interrogam, ajudam a se curar dos ferimentos da queda e decidem de alguma forma auxiliar em sua volta para casa. Para isso Hipólita faz um torneio, no qual aquela que vencesse sairia da ilha levando o homem ao mundo exterior.
Diana é proibida pela mãe de participar da disputa. Mesmo assim, ela usa um capacete, vence os combates, forçando Hipólita a permitir sua filha viajar com Trevor. Ela recebe para lidar com os perigos o laço da verdade, bracelete indestrutíveis e uma tiara que pode ser utilizada como bumerangue. Quando chega no mundo dos homens, assume a identidade de Diana Prince, enfermeira da força aérea americana.
Ela realmente combateu os exércitos nazistas da Segunda Grande Guerra Mundial.
A primeira aparição dela ocorreria em All-Star Comics 8, em 1948, na Era de Ouro dos Quadrinhos. E seria desenhada na capa pela primeira vez na Sensation Comics 1 em 1942 por Harry G. Peter. No mesmo ano, ela teria um título publicado com o nome da personagem, Wonder Woman.
Ela foi criada pelo doutor Moulton para estabelecer entre as crianças e jovens, um padrão de feminilidade forte, livre e corajoso, para combater o pensamento que as mulheres seriam inferiores aos homens. E também inspirar as meninas a terem auto confiança em esportes, ocupações e profissões monopolizadas pelos homens.
Entre alguns dos temas tratados nas suas histórias na época eram, por exemplo, o controle da natalidade. Isso em um período onde isso era proibido. A personagem tinha como uma das metas tentar mostrar todo o poder feminino que era desejado as mulheres nesse período. Notamos como essas mulheres influenciaram nas histórias de William. 
Muitas mudanças ocorreram, inclusive na - muitas vezes odiada - Era de Prata dos Quadrinhos. Sendo que as histórias deixaram de lado os pensamentos feministas, para ideias que seu autor iria odiar, como a Mulher-Maravilha "caçar casamento". Tudo isso por conta de pessoas como Fredric Wertham, que dizia serem os quadrinhos um dos causadores da delinquência juvenil.

"Afrodite proíbe que nós, Amazonas, deixemos que algum homem nos domine. Nós somos donas de nós mesmas."
-Diana
No final dos anos 60, uma onda de feminismo estava surgindo. Métodos contraceptivos, violência doméstica em especial contra as mulheres, estupro conjugal, entre outros assuntos sérios seriam debatidos nos Estados Unidos. Alguns livros como da autora Betty Friedan, que escreveu A Feminina Mística (Feminine Mystique). Ela foi uma importante ativista feminista estado-unidense do século XX e tornou-se uma das principais desencadeadoras da chamada segunda onda feminista no Ocidente.
Nessa época, a jornalista Gloria Steinem escolheu a Mulher-Maravilha como capa da revista Ms. famosa publicação feminista. A escolha se devia pois Steinem acreditava que essa personagem carregava muitos dos preceitos feministas aos quais teriam sido esquecidos ou ignorados pelos homens: auto confiança, irmandade e paz. 
Na década de 70, a Mulher-Maravilha vai ser adotada como simbolo feminista. Pois muitas das mulheres que estavam nas manifestações de igualdade entre os sexos, foram garotas nas décadas passadas leitoras de suas histórias em quadrinhos. Os seus vilões tem muitas vezes como metas a repressão de moças a "estágios primitivos" de servidão aos homens. Uma prova disso é um de seus vilões, Doutor Psycho, que usa poderes telepáticos fazendo exatamente o que foi citado anteriormente.
Em 1982, depois da personagem ser reformulada pela saga Crise nas Infinitas Terras, o roteirista Roy Thomas e o desenhista Gene Colan, criaram modificações na vestimenta da personagem. A mais visível foi a alteração da águia, por um duplo W (que também remetia a uma ave). Assim, ela teria um símbolo como o Superman.
Hoje em dia a personagem consegue mostrar muitas coisas que só agora são tratadas de forma mais clara. Contudo, isso mostra que ainda há muito pelo que se lutar na tentativa de igualar o homem e a mulher na sociedade. Tratando por exemplo, dos altos índices de feminicídio pelo mundo, a extrema violência contra mulheres, vários abortos de crianças do sexo feminino na China devido a política de um filho só, entre outras coisas. Até mesmo a diferença salarial é gritante, especialmente se tratarmos de países como o Brasil.

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