domingo, 3 de dezembro de 2017

Mr. Holmes: O homem além do mito


"A natureza humana é um mistério que a lógica por si só não podia iluminar."
-Sherlock Holmes
Dane-se o filme com Robert Downey Jr! Sou fã do cara já que ele revitalizou um personagem desgastado como o Homem de Ferro... Mas sejamos francos: aquele Sherlock Holmes dele era horrível. Não tinha o charme de um Ian Mckellen. E é tão simples fazer algo assim. Basta contar uma história de detetive. Não precisa encher a história de elementos steampunks para deixar a trama mais atraente. E é isso que o nosso eterno Gandalf e Bill Condon, diretor do filme, fazem magistralmente!

"Os mortos não estão muito longe. Estão apenas... Do outro lado do muro."
-Ann Kelmot
A trama se foca em três tempos. O primeiro é na atualidade com um velho e desgastado Sherlock Holmes, aos seus 93 anos, em 1947. Ele esta no litoral, longe da atarefada Londres por motivos que só ele sabe... Ou sabia. Sua senilidade o impede de ser tão perspicaz do que quando era um detetive particular em atuação. Contudo, ele não vive sozinho ali. Lá estão a governanta Senhora Munro e seu filho Roger que admira o velho homem. Ao que parece, Watson escreveu livros contando as façanhas de Sherlock. Mas um deles lhe incomodou pois não era o final que aconteceu... Pelo pouco que se lembrava.
A segunda narrativa conta exatamente sobre o caso. Nele, nós vemos Thomas Kelmot, preocupado com sua esposa. Ele encontra Sherlock Holmes e o pede para investigar sobre sua mulher, que talvez esteja sendo manipulada por uma mulher. A Senhora Ann Kelmot perdeu suas crianças, e sua professora de música estaria a controlando. Contudo, em uma história desse gênero, as coisas podem parecer óbvias demais.
Por último, temos a viagem de Sherlock Holmes até o Japão. Este procura uma erva rara que só cresceria no lugar. Através do misterioso Umezaki, ele descobre esse item nos destroços de Hiroshima. Só lembrando que o ataque americano ocorreu em 1945. Ainda existem traços dessa guerra por todo o lugar.
Mesmo estando senil, Holmes quer a todo o custo descobrir qual foi o final de sua história com a Senhora Kelmot. Para isso, usa Roger como seu parceiro, assim como fazia com Watson anos atrás. E um forte laço de amizade é formado entre eles, com o olhar repreensivo da Senhor Munro.

"Nunca senti um vazio tão incompreensível dentro de mim."
-Sherlock Holmes
É magnífico! Não tem o que falar. Ian esta sensacional mostrando um Sherlock que esta perto de morrer. Que não admite falhas, tal como era nos filmes. E esse último caso se torna um pecado pois ele não sabe como o solucionou. Afinal, ele é Holmes, e não deixaria um caso em aberto. Ainda assim, sua sutileza quando mais velho, ao mostrar a senilidade de uma lenda torna a história mais verossímil. Antes de qualquer coisa, esse Sherlock Holmes é muito mais a cara dos livros que qualquer outro filme sobre a personagem jamais foi.
Explico: quando se vê um filme mais antigo sobre o personagem, os atores que fazem Sherlock o tratam como um aventureiro. E ele nunca foi assim. Eu até entendo quando mudam a perspectiva de um personagem de história em quadrinhos, mas por Deus, esse é Sherlock Holmes! A fórmula de detetive é tão boa que fizeram uma série atual com as tramas dos livros. O que tem para mudar nele? 
E as outras atuações? Primorosas. Milo Parker é bem mais disposto que um Dr. Watson jamais seria! Fazendo um Roger mais destemido, me lembra até um "Robin para um Batman". Se conhece sobre os personagens Robins da DC e ainda não assistiu o filme, vai entender o que estou falando. A senhora Munro é um outro achado, pois ela é feita por uma maravilhosa Laura Linney. Você tem certa raiva dela ao se intrometer no caso dos dois detetives (existe mais de um caso para se solucionar nessa trama), mas entende a preocupação dela como uma mãe que só quer proteger sua prole.
O diretor, Bill Condon fez uma obra de arte de uma adaptação de outro livro. A Slight Trick of the Mind de Mitch Cullin. E é maravilhoso esse filme pois ele faz menções muito acertadas aos escritos de Sir Arthur Conan Doyle. Se Sherlock fosse realmente um detetive tão respeitado e procurado, ele por exemplo, não colocaria seu endereço nos livros. Isso só serviria como um chamariz para seus inimigos. Ele nunca teria usado chapéu de feltro, e só fumava cachimbo dentro de casa, sendo que não o faz mais no "tempo presente" do filme por estar velho. Além disso ele esta morando em uma fazenda afastada, no litoral de Sussex e o próprio Holmes menciona um certo cão dos Baskervilles. Uma obra-prima que não precisa de muito para ser grandiosa.

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