segunda-feira, 15 de abril de 2024

X-Men 97: Um desenho com militância, nostalgia e... ARTE!

X-Men 97 surgiu recentemente com dois pés no peito na Disney+, mostrando algo muito maior que apenas uma história baseada no clássico cartoon, quando ainda era uma animação mais simples. Na própria história original, se abordava diversas coisas sobre representatividade, morte, maturidade, mas aqui elevamos isso a décima potência. E por incrível que pareça, a história não tenta APENAS ser militante ou nostálgica. Ela usa arte de verdade. Como ela faz isso? Aproveitando a nostalgia e a militância, de forma tão orgânica, que você pode não ter notado.

Primeiro, nós devemos entender de onde a história parte: 
Nos episódios antigos originais, Charles estava para morrer, mas seria salvo - talvez - por Lilandra, a imperatrix do império Shiar. Ele é levado, mas deixa Magneto, para se redimir, liderando os X-Men.
O desenho atual é a mesma coisa, com algumas diferenças. Charles teria mesmo morrido, Magneto não foi aceito tão pela liderança dos X-Men. E apesar de ainda serem vistos com preconceito, os mutantes são mais bem aceitos, em especial a equipe mutante. 
Temos algumas mudanças logo de cara. Como a liderança de Magneto, e um leve relacionamento com a Vampira (pois ele pode a tocar na pele), deixando Gambit de escanteio, Jean Grey que deu uma luz ao filho dela com Scott Summers (sim ela é Madelyne Prior, a Rainha dos Duendes, para gerar uma mini-saga Inferno, na TV) e a verdadeira surgiu dividida entre Ciclope e Wolverine. Alguns personagens podem ter sido deixados de lado, por enquanto, mas logo poderemos ver eles em destaque.
Mas agora, vamos ver sobre o episódio 5, que vai nos traumatizar. 

No episódio 5, chamado de Remember it, temos o grupo de personagens Magneto, Gambit e Vampira, indo a ilha de Genosha. A ONU teria aceitado a ilhota como parte de seu grupo, mas algo ruim está pairando sobre o lugar. Há diversas descobertas, mortes e plots que acontecem. Só que vou me focar no caso do trisal.
Remy se afasta de Vampira, pois através de seu amigo Kurt Wagner, Noturno, ele entende que se a ama, deve a deixar escolher seu caminho. Mesmo que este caminho não leve até o cajun. De qualquer forma, a moça, no final, escolhe o cajun, abandonando Magneto.
Entretanto, isso não foi no tempo certo.
Um ataque de uma aberração sentinela mata diversos mutantes. Entre eles, Callisto dos Morlocks e - ao que parece - Magneto. Mas é com Remy que temos a maior perda, junto com Vampira. Pois ele se sacrifica para a salvar, e lembrando que ela tem poder de absorver memórias e poderes ao toque, ela termina seu texto falando, "Eu não consigo sentir você". Tragédia.
Vejamos alguns detalhes: 

É óbvio que Beau DeMayo usou seu conhecimento sobre minorias, para escrever esse episódio. Massacres que acontecem de tempos em tempos, em diversos locais, mas em especial nos States. Mas tem muito mais ai.
Ele teria sido demitido da Marvel, dias antes da série estrear. Então, ele deu algumas declarações sobre o produto final. Como que esse episódio 5, foi o que ele usou para fazer a produtora fazer essa série. Podemos notar que esse desenho, deve inspiração em ataques terroristas, como o que aconteceu em Massacre de Mutantes ou E de Extinção. Beau transferiu parte de suas experiências para o produto final. 
Inicialmente, ele usou o impacto da queda das Torre Gêmeas (o World Trade Center derrubado, no 11 de Setembro de 2001) na sua mente, como parte da inspiração desse episódio. E isso o fez se assumir como gay, pois notou como a vida é frágil para se esconder com máscaras da sociedade. Mas não para ai. Como homossexual, boates LGBT se tornaram um lugar seguro nesse período, porém, tirado em 2016. Quando ocorreu o massacre da boate Pulse. Ele só não frequentava o local, como conhecia algumas daquelas vítimas. Podemos colocar aqui até o massacre de Tulsa, que foi uma tentativa de acabar com os negros em uma determinada área dos EUA. Material que claramente, está aqui, nesse contexto muito bem armado. 
Beau é um rapaz preto, latino e LGBT nos Estados Unidos da América. O cara poderia morrer a qualquer momento por grupos extremistas. Aliás, notem o quão ele parece forte. E isso explica, porque os X-Men teriam que ter um corpo tão bem definido e serem tão bem treinados: para se proteger das perseguições (salvo exceções, quando os poderes alteram suas formas físicas, como no caso de Blob).

Ainda assim, não é a militância, nem a nostalgia que fizeram essa animação tão boa.
O detalhe sobre ela, está na atuação. Gambit não é um personagem tão conhecido. Muitos acham que ele é francês, quando na verdade é Nova Orleans. Talvez por conta do sotaque. De qualquer forma, ele morre protegendo Vampira e Genosha, por consequência. E isso, independente de pauta de militância (o que muitos idiotas vão chamar de lacração) ou nostalgia, consegue exercer um grande sentimento, por um personagem que todos estavam ridicularizando como "corno", devido a ser trocado por Magneto. E o pior, ELE NÃO FOI, pois antes de sua morte, Vampira estava certa em voltar com ele. O rapaz morre sem saber que ela escolheu ele... E isso ficou a coisa mais linda. Sem contar que Reau disse ter usado a frase inspirado em uma cena de Wandavision de Wanda, não sentido o Visão. Mas aqui o "Eu não consigo sentir você" é pior, pois quando ela o sente, pela última vez, sem precisar se segurar, ele está morto.
Tudo bem, você pode retirar a pauta LGBTQIA+ ou a nostalgia, mas isso também retira o peso, pois quantos outros grupos ou histórias queridas assim, nos fariam chorar a perda de um simples ladrão mutante de New Orleans?

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