Hector German Oesterheld diz:
Sempre fui fascinado pela ideia de Robinson Crusoé. Ganhei-o de presente quando era muito jovem; devo tê-lo lido mais de vinte vezes. El Eternauta, inicialmente, foi a minha versão de Robinson Crusoé. A solidão do homem, cercado, aprisionado, não só pelo mar, mas pela morte. Nem o homem estava sozinho em Robinson Crusoé, mas o homem com a família, com os amigos. Por isso o jogo de truco, por isso a pequena família dormindo no chalé em Vicente López, alheia à invasão iminente. O resto... o resto cresceu por si só, como, acreditamos, a vida cotidiana cresce por si só. Publicado em um semanário, El Eternauta foi construído semana a semana; Havia, sim, uma ideia geral, mas a realidade concreta de cada entrega a modificava constantemente. Surgiram situações e personagens que eu nem imaginava no começo. Como a "mão" e sua morte. Ou como a briga no River Plate. Ou como Franco, o torneiro, que acaba sendo mais herói do que qualquer um dos que começaram a história. Agora que penso nisso, ocorre-me que talvez por causa dessa falta de um herói central, O Eternauta é uma das histórias que lembro com mais prazer. O verdadeiro herói de El Eternauta é um herói coletivo, um grupo humano. Reflete, portanto, embora sem intenção prévia, meu sentimento mais íntimo: o único herói válido é o herói "em grupo", nunca o herói individual, o herói solo."
Hector German Oesterheld
Sequestrado e desaparecido pela ditadura cívico-eclesiástica-militar argentina em 27 de abril de 1977.
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