sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Nerds: precisamos conversar sobre seus preconceitos...

Desde que os termos nerd, geek e otaku surgiram, esses foram meios que muitos de nós usamos para pessoas com preferências por coisas fora do comum. O que significa que tinha toda uma série de gostos aos quais a maioria não gostava. Esse grupo surgia muitas vezes por conta, não de preconceito em si, mas de assédio moral (o que denominamos nas escolas como bullying). Isso acontecia, especialmente, quando as pessoas nos anos 70 e 80 gostavam de ficção científica (que quase sempre surgia em livros, nessa época) ou artes ou RPG (o de mesa) ou outras coisas menos comuns na época.
Isso gerou a ideia de que nerds são marginalizados pela sociedade. Isso é bem explorado em filmes como Os Goonies, Deu a Louca nos Monstros, entre outros. E até recentemente, pouca gente notou, mas fizeram referências a isso em Stranger Things, onde o grupo de garotos começa tudo jogando RPG, se vestindo como personagens de filmes (Ghostbusters), entre outras coisas.
Entretanto, o nerd virou "cool". O fã de HQs e mangás se tornou uma fonte inesgotável de conhecimento das novas e velhas gerações. O que é bacana! Entretanto, copiando o Tio Ben "Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades". Notemos que aqueles que um dia foram "zoados" serão os "zoadores". Mas não é uma brincadeira ou piada. Pois quando humilhamos outra pessoa, isso deixa de ser engraçado.

O preconceito racial:

Vocês sabiam que deve gente que, literalmente, não gostou de Star Wars VII, VIII e IX, não por ter uma história fraca - o que até faz sentido - mas por ter um ator negro na nova trilogia. Em um universo onde existem seres de diversas espécies, como uma pessoa fica nervosa com um negro na história? E porque? Tem um bicho verde que é literalmente um muppet com acesso a Força, tem um peixe que virou meme com "It's a trap", tem milhares de jedis com tentaculos na cabeça, sith com chifres e uma tatuagem dark por toda a franquia. Mas o nerd racista fica bravo com a chance de um rapaz negro ser protagonista! Parabéns. Troféu de merda para você.
E sabe o que é pior? John Boyega veio recentemente falar que a Disney não deu apoio ao ator quando aconteceu a retaliação dele, ao ponto dos "fãs" não comprarem o boneco do personagem Finn. O que faz muito sentido pelo que o ator falou. Não faz muito tempo, aconteceram diversas demonstrações dos EUA com relação ao racismo inerente no país. Tudo por conta de ações de policiais truculentos que literalmente, mataram um homem negro o sufocando. Isso sem contar AS OUTRAS MORTES que ocorreram no mesmo ano e foram filmadas. Sendo que quando foi um homem branco, armado, aparecer contra as manifestações... Ele foi conduzido. Dois pesos duas medidas não é?
No Brasil não fica muito longe disso. Mas não somente tratando sobre os negros, mas também sobre os indígenas.
Recentemente a obra Kriança Índia foi criticada por mostrar uma criança indígena matando grileiros e outras pessoas que atacam as vilas de indígenas e a floresta. Mas ninguém critica um anti-herói como o Doutrinador - ao qual se notarmos, seu nome faz referência a doutrina, controle sobre outras pessoas - que só mata esquerdistas. Os corruptos são só os caras "comunistas"? Uau... Engraçado que caras como Haddad foram investigados e foram absolvidos de muitos crimes, enquanto Temer, Maluf e outros nomes da direita são ainda investigados. 
Mas o melhor foi a resposta da Kriança Índia. Foi soltada uma cena em que um homem branco foi morto pela criança, no qual ela faz uma paródia com o lema de Jair Messias Bolsonaro (presidente em 2020) "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos".
Sem contar a capa que é um clara alusão a Bolsonaro morto. O motivo de não ser contra isso? Quando um determinado secretário foi retirado do poder, ele falou que gostava do Doutrinador matando o Lula. Isso é engraçado com político, desde que não seja o seu de estimação, não é?

O preconceito sexual:

Ainda sobre Star Wars, nós podemos também nos lembrar que deve gente não acreditando na personagem principal ser a Rey. Foi uma boa jogada de JJ Abrams, pois nos trailers, não tínhamos certeza que ela seria a protagonista. Não me importava isso, mas parece que alguns caras bem troglodita, não gostava de uma mulher liderar a história. Parabéns, gente. Vocês gostam das princesas de Star Wars como a Leia ou Amidala, pois acha que elas ganharam o posto por um questão de herança? Caso não saibam, mesmo sendo chamadas com um termo monárquico, elas são eleitas. Não é a história do "herói salvando a donzela", mas sim usar elementos medievais para uma nova perspectiva do mundo. 
Ou já se esqueceram dos tiroteios das princesas em vários dos filmes? Do I ao VI. As mulheres, em especial dentro de filmes, estavam começando a sair das sombras e começando a ganhar os holofotes. E nessa leva podemos colocar personagens como a Mulher-Maravilha, que é uma princesa e faz parte da Trindade (o grupo dos mais importantes personagens da DC que incluem ela, Batman e Superman). Ou seja, uma das mais poderosas heroínas do mundo! Sendo um símbolo até mesmo para o feminismo até hoje em dia.
Nichelle Nichols, a atriz que fez a Uhura na série clássica de Star Trek tem uma vida particularmente, tanto por ser mulher quanto pela questão racial. Tanto que ela realmente pensou em desistir da vida como a personagem. Até encontrar Martin Luther King. O pastor era fã da série e da jovem atriz, lhe falando que ela era um exemplo a ser seguido. Nunca antes uma mulher negra estava tão alto dentro de uma mídia como a TV. Pois ela estava representando um modelo vital para jovens crianças e mulheres negras em todo o país. Após a primeira temporada, o papel de Uhura na série foi ganhando mais destaque.
Whoopi Goldberg, ganhadora de muitos prêmios, declarou que viu a personagem na televisão e correu para contar para a mãe dizendo: "Eu acabei de ver uma mulher negra na televisão, e ela não é nenhuma empregada!"
Na história da televisão dos EUA, a personagem é conhecido por participar do primeiro beijo inter-racial transmitido naquele país, com o Capitão James T. Kirk. Este episódio, intitulado "Plato's Stepchildren" (Os Enteados de Platão, em tradução livre), pôde ser exibido somente em novembro de 1968, um ano após a Suprema Corte dos Estados Unidos ter decidido eliminar as leis que iam contra o casamento inter-racial. 
E para terminar, não vamos esquecer os homossexuais, bissexuais e transexuais. Uma personagem que foi muito ofendida por ser trans, foi Afrodite de Peixes. Esse fato não foi bem aceito em um spin-off com Cavaleiros do Zodíaco G (onde o foco era, no começo, Aioria de Leão), chamado Saint Seiya - Episode G: Assassin. Só que esse mínimo detalhe não influencia em nada o grande poder do Cavaleiro de Peixes, se ele for ou não transexual ele continua sendo a pessoa que derrotou o gigante Zugilos de Anthrakma (Episode.G) o mesmo que travou uma batalha mortal contra Shun de Andrômeda (Mangá Clássico) e o mesmo que salvou os demais Cavaleiros de Ouro da emboscada de Andreas (Anime Alma de Ouro). Algo como a sexualidade, influencia nas atitudes de uma pessoa? Não.
Rebecca Sugar, a criadora da animação Steven Universe, disse que sua obra tem bastante influência em sua vida como mulher bissexual. O problema é que muitas pessoas não gostam da obra, sem nem ao menos ver a animação. Muita gente reclama que "colocam representatividade em animações que seriam reboots das antigas", mas nem tão chances a obras que surgem como uma forma de representatividade. Complicado, não é?

O preconceito religioso:

Duas personagens, que muitos preconceituosos não gostam de lembrar que tem uma religião diferente da cristã, são Magneto e Lince Negra. Erik Magnus Lenshneer e Kitty Pryde são judeus. Mas com pontos de vistas completamente diferentes um do outro, pois Erik viveu o Holocausto e a Kitty surgiu num período mais contemporâneo. O que isso significa? Que a ideia de preconceitos como o religioso muitas vezes se mantém firmes contra pessoas que não sejam membros da religião vigente, por muito tempo dentro da história. Usemos o exemplo do Brasil em 2020, que além de termos casos de preconceito sexual e racial, também temos o religioso. Como o de uma mulher que deve a guarda de sua filha retirada por certo tempo, por conta que a levou a um terreiro. Os terreiros são como igrejas, ou seja, templos religiosos. Se uma criança pode ir a eventos religiosos cristãos, por qual não pode ir a um de origem afro-religioso.
Podemos ver isso em diversas editoras, como a DC. Ou seja, há diversas religiões, em diversas editoras. Onde existem outros personagens, alguns religiosos (Superman é metodista, Zatanna é wicca, a Viúva Negra Natasha Romanov é cristã ortodoxa russa, Wolverine é budistas, Coisa é judeu e Miss Marvel, Kamala Khan é islâmica).
E para terminar, notem que um preconceito puxa o outro: um machista, muitas vezes não vai com a cara de homossexuais; alguém que não respeita a cultura negra, muitas vezes vai contra religiões de matriz africana; e por ai vai.
Mas isso não deveria existir entre os nerds, aos quais estão cheios de referências de como o preconceito não tem vez na nossa sociedade atual. E como isso é retrogrado, de tempos que não podem e não devem voltar.


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