segunda-feira, 6 de agosto de 2018

RPG nacional: os passos lentos rumo aos livros nacionais

No Brasil dos anos 80, um grupo de jogadores seria responsável pelo RPG ser trazido ao nosso país. Esse mesmo grupo seria responsável pelo primeiro jogo desse estilo criado por aqui: Tagmar. Ele era inspirado em clássicos como Advanced Dungeons & Dragons e Star Frontiers. Lembrando que jogos assim tem origem americana.
Criado por Ygor Morais e Marcelo Rodrigues que se conheceram em 1985, na famosa "geração xerox" ou "era de caça as bruxa do RPG". Pois muitos jogadores nessa época não tinha grana para comprar as versões originais dos jogos, xerocando todas as obras. Sem contar que muitos pais observavam com maus olhos esse hobby. Isso tudo no Rio de Janeiro, com jogos como Dungeons & Dragons e Advanced Dungeons & Dragons.  
O fato disso se concentrar no Rio faz muito sentido: nos primeiros anos do RPG vindo de fora, a editora Devir (principal e único nome naquela época no assunto) trazia os primeiros livros desse estilo para o território carioca. Que facilitaria a concentração deles na região. Lembrando que era uma época que o uso da internet em massa era algo raríssimo. Talvez isso também se deva por uma grande concentração de jogadores naquele área do que em qualquer lugar do Brasil.
Eles pensaram em criar o jogo de RPG ao mesmo tempo em que criaram a Editora GSA. Não tinha ninguém se enveredando nesse mercado naquela época. Algo bem parecido com o que ocorreu com Gary Gigax e a TSR nos Estados Unidos. Até o nome (GSA) é inspirada na primeira casa de Dungeons & Dragons. 
Conceitualmente a GSA e o Tagmar surgiram em 1990, mas só surgiram realmente em 1992. A planilha de personagem já ficava na contra capa dos livros, assim, não precisava abri-lo demais. Quem é dono de uma dessas obras, deve saber como isso era algo terrível. Esse sistema era um tanto complexo e utilizava uma tabela colorida para saber os resultados no jogo. Mas ela também tinha outra função: evitar a pirataria dos jogos. 
Ainda assim, Tagmar foi um sucesso. Tanto que rapidamente foi lançada sua segunda edição.
Em 1995 (dois anos antes do fechamento da editora GSA), os autores Paulo Vicente Alves e Ygor Morais Silva criariam o primeiro sistema espacial de RPG, o Millenia.
Sua história se passa mil anos no futuro (tomando como base o ano de lançamento, que foi 1995), em 2995, onde a humanidade vive um novo ápice em sua história, depois de passar por vários apogeus de dominação das estrelas, apenas para ser escravizada por uma espécie alienígena chamada de Fentom, que dominaram não apenas a humanidade, mas inúmeras outras espécies. Mas se libertaram. Seu novo sistema político e social se tornaria inspirado no único sistema ao qual os registros históricos mantiveram: o Império Romano.
Eis que nos anos 90, mais jogos tupiniquins surgiriam. Como o famoso O Desafio dos Bandeirantes - As Aventuras na Terra de Santa Cruz. Os três autores dessa obra foram Carlos Klimick, Luiz Eduardo Ricon e Flávio Andrade e publicado em 1992 pela editora GSA. Vejam como ela se tornou, por um longo tempo um verdadeiro ícone das produções brasileiras. Sua proposta era criar um cenário de fantasia usando elementos do folclore nacional. Onde normalmente jogadores estariam acostumados com elfos e orcs, agora nós tínhamos curupiras e sacis, entre outros seres mitológicos do Brasil colônia. 
A história se passa no nosso território, quando ele ainda era chamado de Terra de Santa Cruz. O problema é que não temos só como inimigos as forças sobrenaturais desse território inexplorado. Também temos povos hostis europeus, incluindo os portugueses, diversas tribos indígenas, escravos e mestiços. Usando um sistema como 2d10, em um sistema de porcentagem. Além do módulo básico, nós temos dele A Floresta do Medo / O Engenho, e os módulos de ambientação Os Quilombos da Lua e O Vale dos Acritós.
Ainda assim, não fez tamanho sucesso pela falta de apoio na época para o sistema. Sem contar que o surgimento de novos jogos com novas mecânicas e estilos de jogos, como Vampiro - A Máscara e Shadowrun
O surgimento do terror se deve a um nome: Marcelo Del Debbio. Sempre foi muito influenciado por quadrinhos desde cedo. E em 1984, o pai de Del Debbio encontrou o livro Marvel Super Heroes da TSR, um sistema de RPG bem antigo. Isso fascinou o jovem junto a alguns amigos. Depois, caçaram outras coisas do estilo como Dungeons & Dragons, pouco a pouco.
Ele tinha grande contato com o mundo dos fãs de RPG nacional, fazendo consultorias em alguns assuntos sobres os sistemas e outras coisas. E determinada vez, Marcelo Cassaro, principal nome envolvido com a Dragão Brasil, pediu que Del Debbio escrevesse algumas matérias para a revista. Ele ficou um longo tempo como colaborador.
O primeiro livro que ele teria escrito seria Arkanun. Com sua primeira edição publicada em 1995, Trevas é o mais antigo e respeitado RPG de horror no Brasil. Desenvolvido pelo premiado escritor Marcelo Del Debbio, com a ajuda da equipe que criou o Sistema Daemon, o mais antigo e conhecido sistema de RPG nacional ainda em circulação.
Na história do jogo, infiltrados em nossa sociedade, anjos e demônios disputam como em um jogo de xadrez a vitória na Guerra pelas almas entre o Céu e o Inferno, usando os humanos como peças em seu jogo milenar. Segundo o livro, ele é totalmente baseado em personagens, sociedades secretas, mitologia, alquimia e ocultismo reais, sendo recomendado apenas para jogadores maiores de 18 anos.
Inicialmente fizeram três mil cópias para Arkanun e foi rapidamente vendido. O sistema também utilizava um sistema de porcentagem, mais bem elaborado e mais fácil para criar uma ficha.
Só que esse se passava na idade média, usando conceitos da época. E com o sucesso de Vampiro, isso fez com que as pessoas quisessem algo mais atual. Então eles fizeram outro livro, usando o mesmo sistema: Trevas. Aqui vemos um processo inverso ao World of Darkness da White Wolf, pois eles começaram suas histórias na atualidade, para depois enveredarem para tempos mais antigos.
Muitas vezes, esse sucesso se devia as ideias de Cassaro. Já que sempre que faziam uma matéria sobre RPG, eles tinham uma adaptação para diversos sistemas como, AD&D, GURPS, World of Darkness (quase sempre voltado para Vampiro ou Lobisomem) e o Daemon também.
Um problema que Del Debbio e Cassaro notaram era a compra de dados com 10 faces. Vários eram os métodos para isso. Por exemplo, sendo Debbio um grande fã do ocultismo, poderia ser utilizado as cartas de tarô em um jogo como esse. Mesmo assim, era necessário usar algo mais simples.
Cassaro queria utilizar d6 em um novo sistema. Que ele chamou de D&T (Defensores de Tóquio, uma clara referência ao D&D) e muito mais simples. Um outro motivo, além do uso do dado comum, era a burocracia para licença e distribuição de jogos no país. Talvez um das maiores referências para criação desse primeiro jogo foi Toon, onde a história era mais voltada para narrar aventuras baseadas em desenhos animados como os da Warner Bros e Hannah-Barbera. Então, usando essa questão do humor (que se perderia um pouco, anos depois), mas fazendo referência ao universo de animações e live-actions japoneses, nasceu assim um sistema completo. Hoje E ele superou em vendas o Trevas.
Mas mesmo perdendo em vendas para D&T, a venda de vinte mil edições de Trevas em bancas, foi o suficiente para criarem a Daemon Editora. Assim, criando livros com capa-dura.
Esses foram, provavelmente os predecessores dos RPGs nacionais nos tempos atuais.  

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