segunda-feira, 6 de agosto de 2018

The Maxx: A obra-prima de Sam Kieth

A maioria de nós habitam pelo menos dois mundos. O mundo real, onde estamos à mercê das circunstâncias, e o mundo interno, o inconsciente, um lugar seguro, onde podemos escapar.
-The Maxx
The Maxx é um personagem de HQs, escritas por Sam Kieth e William Messner-Loebs, publicadas pela Image Comics em seu começo. Surgindo também nos maravilhosos anos 90, assim como personagens do tipo de Spawn e Hellboy. Isso mostra como este personagem tem uma profundidade muito maior que as obras surgidas na DC e Marvel naquela época. E quem sabe, até hoje essas histórias sejam mais bem elaboradas que muitas obras e suas "mega-sagas".
Assim como Spawn, The Maxx deve uma animação baseada nas histórias do personagem. No caso do primeiro foi pela HBO e do segundo, foi a MTV. 

"Me sinto como o Hendrix tocando com os Beatles."
-Sam Kieth ao falar de sua saída do título Sandman
Sua história conta sobre um personagem misterioso e seu convívio com uma moça. A história narra dois planos de existência, em que Julie Winters, uma jovem problemática, precisa enfrentar seus medos e conflitos e ajudar um ser chamado The Maxx, um mendigo que transita entre o real e o imaginário.
Ele atua como um super herói nesse mundo novo. Enquanto no mundo real, em que Julie é uma assistente social independente. 
Devido a um acontecimento trágico por que passou, Julie construiu inconscientemente um mundo paralelo, baseado em suas memórias suprimidas de infância, formado por uma savana australiana com criaturas inusitadas, em que ela seria a Rainha Leopardo, senhora da selva. Maxx em ambos os mundos é seu protetor e animal-espírito, ainda que ele não controle onde estará a cada instante: num momento ele pode estar lutando na cidade para defendê-la, em outro repentinamente adentrar na savana, tendo que lidar com outros perigos.
Na cidade, Maxx enfrenta Mr. Gone, um vilão que ataca mulheres e comanda os Iszes, seres que tomam a forma humana para cometer crimes. Somente Gone sabe o significado dos dois mundos, o que há por trás da máscara de Maxx e o que aconteceu com Julie no passado. 
A história é muito mais complexa do que essa simples sinopse. Mas tudo bem elaborado por Sam Kieth, tanto nas HQs e na animação. Mostrando o quanto somos frágeis no mundo real. Talvez, até mesmo mostrando os sentimentos das pessoas nos anos 90, com uma certa tristeza sobre a situação que estavam naquela época.
Ele teve 11 números nos quadrinhos, inicialmente na Image Comics. Posteriormente, foi publicado pela DC Comics. Mesmo com um final diferente, a animação é bem fiel, praticamente uma filmagem dos quadros de Sam Kieth.

Tendo em mente que eu tenho um emprego. Enquanto você tem um cobertor com vômito.
-Julie Winters
No final da série, ele foi assessorado pelo grande Alan Moore. Isso já mostra o potencial de Sam Kieth. 
Kieth chega a parodiar certos clichês usados nas histórias de super-heróis, o que acaba funcionando como uma crítica à romantização da violência e da morte, mas ao mesmo tempo sem abdicar desses elementos, talvez com a intenção de trazer consciência para eles.
No ano de 1995 foi lançado na MTV a série The Maxx sob o selo MTV Oddities. Baseada na HQ, a série contém 13 episódios contendo em média 11 minutos de duração cada.
A animação de The Maxx é engenhosa, com mais movimentos de câmara que dos próprios personagens. E com amplo uso do picture in picture, com quadros menores dentro do enquadramento maior, remetendo diretamente à linguagem dos quadrinhos. Os diálogos também são criativos, com mistura freqüente do narrador em off com os diálogos, e as vozes foram muito bem escolhidas (Michael Haley dubla Maxx e Glynnis Talken dubla Julie).
Apesar dos temas pesados (estupro, serial killers, órfãos, sem-teto, etc), The Maxx consegue manter o humor (negro, é claro). E quando as coisas se complicam, é sempre melhor ser um poderoso herói que um sem-teto numa metrópole suja e impiedosa.


Um comentário:

  1. The Maxx é sensacional!Uma verdadeira obra de arte esquecida. Sam Kieth, na época, era simplesmente o melhor desenhista em atividade do mundo. Sua arte final é um esplendor de detalhes. Acompanhado de William Messner no desenvolvimento do personagem, Sam Kieth conseguiu criar uma verdadeira obra-prima da nona arte. Excelente resenha. Parabéns.

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